“A forma que Deus usou para fazer Araújos foi jogada fora. Terra boa como essa, não existe em lugar algum”. Estas são as palavras de uma sábia e carismática idosa, conhecida como Irmã Juliana. Professora, viúva, religiosa e com quase 90 anos, Maria Madalena da Silva Chagas nasceu e viveu boa parte da vida em Araújos. Na cidade que antes era um vilarejo, ela presenciou momentos marcantes e encontra inspiração para continuar ativa.
A imagem da construção das primeiras pilastras na Igreja Matriz, na época em que Araújos ainda era um arraial, permanece viva na memória de Irmã Juliana. “As pessoas que moravam aqui buscavam o crescimento do local e o principal objetivo era trazer energia elétrica”, lembra. O desejo virou realidade mesmo que de forma precária. Mas, o novo serviço deu esperanças ao povo. Aos 14 anos, Maria Madalena foi seguir a vida religiosa em um convento de Manhumirim, Minas Gerais. No tempo em que viveu longe da terra natal, a professora de matemática, inglês e latim não pode acompanhar de perto alguns progressos, como a chegada do primeiro reservatório de água construído em 1940.
O arraial atingiu um novo patamar em 1954, quando foi emancipado. Naquele mesmo ano, 231 pessoas nasceram na cidade, de acordo com o Cartório de Registro Civil. Os pais, familiares e todos os novos integrantes da terra puderam acompanhar o desenvolvimento do município e contribuir para o fortalecimento da região. A posse do primeiro prefeito eleito foi em 1955. Cinco anos depois, o pequeno ambiente foi ganhando formas e estrutura. Foram erguidas obras importantes: agência dos Correios, prefeitura, biblioteca, cinema e uma quadra esportiva. Os moradores que precisavam fazer o trajeto da zona rural para a área urbana utilizavam o transporte feito a cavalo ou carro de boi.
Irmã Juliana tem muitas histórias para contar. Em 1970, retornou para Araújos onde faria uma visita rápida, mas acabou fincando novas raízes. Ela conta que chegou em um dia e no outro já lecionava em uma escola de Perdigão, cidade vizinha. Com o passar do tempo, se casou, mas não teve filhos. “Encontrei um lugar bem melhor do que eu havia deixado. Estava organizado, algumas ruas pavimentadas, novas casas e o comércio crescia cada vez mais”, relembra.
Nesta época, as manifestações culturais também se afloravam, como é o caso do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. Os festeiros são acompanhados até hoje por centenas de pessoas, sejam de Araújos ou municípios próximos, que fortalecem a fé e a religiosidade. O tempo passou e outras obras importantes para a cidade foram inauguradas, como o poliesportivo e a rodoviária. Também, com empreendedorismo, muitos moradores abriram o próprio negócio, promovendo o desenvolvimento local.
Hoje, com 60 anos, Araújos comemora o progresso. E mesmo com tantas mudanças e melhorias, a essência permanece a mesma. “As pessoas valorizam este local. Quem vai embora, sempre volta para visitar e quem fica, nunca quer sair. Existem pessoas bondosas, hospitaleiras e bons exemplos de gente que fez de tudo para transformar esta cidade em um lugar melhor de se viver”, finaliza.
"Mata dos Araújo"
Araújos era terra habitada por índios. No começo do século XIX, a família Alves de Araújo se estabeleceu no local e os índios foram se afastando. A região ficou conhecida por “Mata dos Araújo”, e, por volta de 1750 a 1800, uma pequena aglomeração foi se formando às margens do Rio Lambari. Época em que o estado era constantemente atravessado pelos garimpeiros e bandeirantes, outras famílias foram se fixando no local.
A fertilidade das terras, próprias para a agricultura e o desenvolvimento da cultura de arroz, feijão, mandioca e amendoim, foram fatores determinantes na ocupação do território. Em 1938, Araújos foi elevado a distrito, integrado ao município de Bom Despacho e em 12 de dezembro de 1953, pela Lei 1039/53, o povoado emancipou-se e passou a se chamar Araújos, em homenagem à família Alves de Araújo. O aniversário da cidade é comemorado no dia 1º de janeiro.